Linguagem e resistência: Trajetória do discurso feminino na luta contra a opressão

Autores

Patricia Orlando
Universidade de São Paulo image/svg+xml

Sinopse

A história do pensamento na Europa Ocidental condicionou nossa percepção das diferenças humanas por meio de oposições simplistas: bom versus mau; dominante versus subordinado. Contudo, as bases para tais classificações não estão explicitamente estabelecidas e permite que o próprio sistema reforce as distinções que ele mesmo criou. Assim, determinados grupos — de negros e, especialmente, mulheres — são sistematicamente marginalizados, vistos como dispensáveis aos ideais de lucro e poder em suas diferentes formas. Esse processo de opressão leva o grupo a adotar, por vezes, a linguagem e o comportamento de seus opressores em uma busca inconsciente de sobrevivência ou de ilusória proteção. Audre Lorde questiona: “Sempre que surge a necessidade de alguma espécie de comunicação, aqueles que lutam contra nossa opressão nos convidam a compartilhar nosso conhecimento com eles” (Lorde, 2019, p. 239). A partir dessa questão, este estudo visa explorar como as mulheres - cujos corpos, intelecto e vidas são estigmatizados - têm reivindicado um novo espaço social por meio da linguagem, principalmente na virada do século XX para o XXI. Traçaremos um percurso analítico desde os textos de Simone de Beauvoir (O Segundo Sexo, 1949) até as contribuições contemporâneas de Judith Butler (Gender Trouble, 1990), Sueli Carneiro (Racismo, Sexismo e Desigualdade no Brasil, 2003), Gayatri Spivak (Can the Subaltern Speak?, 1988). Nosso
objetivo é examinar a evolução do debate sobre o papel da mulher no discurso e, por uma abordagem dialética inspirada nos estudos culturais, discutir como essas pensadoras foram, elas próprias, moldadas por seus contextos históricos e se os debates e as estratégias linguísticas continuam os mesmos. A metodologia adotada será a análise textual crítica. Trabalharemos com a leitura atenta de um ensaio ou trecho representativo da obra de cada autora, atentando para os mecanismos linguísticos e retóricos que sustentam seus argumentos. A análise considerará também os elementos contextuais (época, local, trajetória intelectual) para compreender as singularidades de cada produção teórica e seus vínculos com lutas políticas específicas. Este exame nos permitirá identificar os mecanismos linguísticos e discursivos utilizados para desafiar o status quo e para promover uma reivindicação efetiva do conhecimento feminino.
Este projeto visa contribuições significativas para o entendimento da dinâmica do discurso feminino e para revelar tanto avanços quanto desafios persistentes na luta contra a citada opressão sistêmica.

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Publicado

5 novembro 2025

Como Citar

Orlando, P. (2025). Linguagem e resistência: Trajetória do discurso feminino na luta contra a opressão. Em A. Pinto, S. Shi, E. Soares, A. Meneses-Silva, & V. Anachoreta (Eds.), Mulheres no Discurso - Women in Discourse. Faculdade de Letras da Universidade do Porto. https://doi.org/10.21747/978-989-9193-67-3/mula7